Onde inicia o apagão?
Ele inicia na fraca e inconsistente formação profissional.
Um jovem, para chegar à academia e profissionalizar-se, passa por uma etapa preparatória, e então continuar a expansão do seu saber. A essa etapa previa chamamos de formação propedêutica.
Na formação propedêutica são ensinadas as primeiras regras, os números, as letras, e suas combinações. Também são ensinadas as bases de civilidade e do convívio social. Se essa etapa é omitida ou ignorada, a conseqüência é a má formação do jovem. Resgatando o pensamento de Piaget, "uma criança é um livro em branco, o conteúdo das primeiras páginas é que definirá o caráter de cada indivíduo".
Atualmente na educação brasileira podemos identificar o processo de globalização orientando para a normose da imbecilização. O ensino de graduação superior para os jovens mais engajados na expansão do saber está se degradando, nesse espaço acadêmico, que é também propedêutico, com o acesso de jovens pouco preparados. Com o acesso ao mercado de trabalho de profissionais incompletos, conseqüência pela má formação, ocorrem ações bizarras, fatos que podem ser considerados como indícios do apagão, não só de engenharia, mas também cultural.
Dos muitos fatos recentes, uma popular blasfêmia foi a conivência com os erros gramaticais imposto por um livro de gramática. A instituição que deveria ser o baluarte da cultura nacional, o MEC, financiou a publicação. A Academia Portuguesa de Letras há um tempo vem tentando impor a gramática de Portugal aos países de colonização lusa. Essa é a oportunidade APL afirmar que os brasilucas são uns mocorongos brucutus, incapazes de zelarem pela observância de regras. Coincidência ou não, a professora autora da cartilha Heloisa Ramos é de origem portuguesa.
Isso é terrorismo !
A lei das cotas nas universidades, é outra blasfêmia. As cotas podem existir, mas com uma infra-estrutura propedêutica básica, para que os cotistas não puxem a educação para níveis inferiores.
Quanto ao direito a cotas, para quem? Sou de origem européia e meus antepassados vieram ao Brasil para um projeto de estado maquiavélico (O Príncipe) como escravos qualificados. O escravagismo que sempre existiu, teve seus maiores empresários, comerciantes e caçadores, na própria sociedade opressora dos quais eram originários, africana e asiática.
Recentemente na área tecnológica, assistimos a ABNT impor mudanças nas tomadas e flechas de conexão as fontes de alimentação de circuitos de corrente alternada. Esse fato ocorre no momento em que acompanhamos mudanças na economia, com padronização de produtos no formato ISO para entrada de produtos no mercado globalizado. Ao discurso de sustentabilidade com menos desperdício e racionalização da infra-estrutura existente, opõem-se o lobe incompetente e mercenário de fabricantes para micro-mercados.
As novas flechas de alimentação são fantasticamente singulares. Não existe no país ou no planeta, tomadas de força que as encaixe. Somente depois de substituí-las será possível! E isso é custo! Custo burro! Aqueles componentes que estão funcionando hoje deverão ser refeitos com desperdício de matéria prima.
Os tigres asiáticos obtiveram sucesso no processo civilizatório da economia, quando se adequaram às normas ISO e internacionalizaram seu produto, atendendo a formatação das exigências do mercado globalizado. Os produtos industrializados nos formatos definidos pela ABNT ocuparão apenas o restrito mercado interno, enquanto que a penetração no mercado externo ficará comprometida. Os maestros destas imbecilidades são normatizadores, legisladores, professores, mestres e doutores, graduados, que não focam os projetos de tecnologia e maturidade em gestão.
Outro fato que considero a maior se todas as blasfêmias, é a deliberada degradação da formação dos técnicos industriais e do magistério formados com o 2º grau, imposta pela atual LDL. O jovem adolescente se inseria no mercado de trabalho e se engajava como cidadão (ator social e intelectual orgânico - Gramsci) , está hoje relegado a segundos planos. Como estudantes e logo estagiários, bem cedo ocupavam seus tempos nos processos de produção. Assim garantiram por muito tempo um espaço sinergético de formação propedêutico, norteado pelo cientificismo da heurística do “chão de fabrica”. Como atores sociais, com formação de segundo grau, o jovem do magistério amadurecia, como multiplicadores do saber, tornando-se intelectuais orgânicos. Em esco-las de primeiro grau incompleto, ao mesmo tempo em que preparava a sua expansão, colaborava na construção do fato social.
Já o técnico industrial, despido do materialismo cartesiano academicista, com ingerências construtivistas nas tomadas de decisões e ações de sua área de atuação, em vários casos tiveram suas engenhosidades e inventos produzidos plagiados por profissionais de nível hierárquico superior.
O espaço de discussão gerando o fato social, gerido por estes jovens do magistério, não mais se dará nas escolas de primeiro grau incompleto. As disputas, com baixarias, se darão nos bancos universitários. Não mais se submeterão a ser espancados ou esfaqueados por crianças mimadas, minadas pela incapacidade de gestores burrocratas na construção de um espaço funcional realmente propedêutico.
Assim, Leis, para quê? E Normas Técnicas? Para quê?
Ai compreendemos o apagão na Engenharia, na visão reducionista de Descartes, que degrada a cultura como um todo.
Ao invés de profissionais com graduação superior qualificados para prospectar novas frentes de negócios, a opção é por disputar nichos de mercado de profissionais com formação assistencialista, de nível médio.
Uma nova e insolúvel questão é então levantada: Quem vai optar em cursar o magistério, nível universitário, para correr risco de agressões físicas e receber uma esmola como salário? E quem vai zelar pela observância das normas, já que elas passam a não ter valor propedêutico?
O espírito da lei necessita ser exorcizado, para que as regras criadas por estados bárbaros, com foco da imposição e submissão das massas (Pax romana) possa hoje a ter cunho prático, visto que hoje é filosófico, correto e belo, mas inexeqüível.
Como as regras passaram a ser quebradas, a construção de bases curriculares em todos os níveis de formação estão definitivamente falidas. O ensino da gramática será então aplicado a idiotas. Já as normas técnicas para reprodução, acumulo e concentração da riqueza. As Leis para os menos iguais, já que estamos enjaulados no mundo virtual, incapaz de qualquer indução das hordas na tomada qualquer atitude contra as injustiças praticadas em nome do estado, das instituições e da sociedade moderna.
A conseqüência serão falhas nos processos de industrialização, gestão da infra-estrutura pública e privada, acidentes com dano à sociedade como um todo, e o pior de todas as conseqüências (parafraseando Bertolt Brecht), a globalização da miséria e da ignorância. ________________
Meus descendentes que me perdoem por ter deixado esse caos de herança... E ainda vai aparecer um idiota, da Academia Brasileira de Letras dizendo que isso é anarquia.
Normose doença pscosocial que ocasiona um processo de passividade e aceitação de fatos. Exemplo: ao depararmos com uma criança pedindo esmola em um semáforo, afirmamos ser normal nos dias de hoje. Pois não é normal, e a afirmação conseqüente, é a normose. Muitos são os intelectuais e teóricos que busca defini-la, mas esta é a mais clara e objetiva definição. Gilberto Karnas- Sociólogo
http://bocadolixo.wordpress.com/2009/10/16/o-intelectual-organico/
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Gilberto José Girardi Karnas, Sociólogo, Professor e Eletrotécnico